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Miopia: Tire os olhos do ecrã, proteja-se e proteja as crianças

01.10.2020

Exame à miopia

Metade da população mundial será míope em 2050
 
Cerca de 30% da população mundial sofre de miopia. Esta percentagem está a subir rapidamente desde há algumas décadas, prevendo-se que, em 2050, 50% das pessoas em todo o mundo sofram desta doença (5 biliões) e cerca de 1 bilião sofrerá de miopia elevada, com todas as complicações que daqui resultam: ou seja, dentro de 30 anos, uma em cada duas pessoas serão míopes! Países há, em especial na Ásia, em que a prevalência da miopia em jovens adultos atinge já os 90%. Trata-se de uma verdadeira pandemia que cresce a nível global.

Mas, afinal, o que é isto da miopia? É uma doença que ocorre quando o globo ocular é mais comprido, a córnea é demasiado curva ou quando há alterações de transparência do cristalino. As imagens são focadas à frente da retina e, como consequência, as pessoas têm dificuldade em ver ao longe, vendo bem ao perto.

Se não for tratada, a miopia pode causar perturbações visuais mais graves, além de provocar uma significativa diminuição da qualidade de vida.

Troque os tablets e telemóveis pelo ar livre

Há algumas décadas, considerava-se que a miopia era causada por fatores genéticos. Hoje, sabe-se que os fatores ambientais e comportamentais são decisivos para o aparecimento da doença. Vários estudos demonstram que o excesso de atividades de visão ao perto está ligada ao desenvolvimento de miopia. O aumento da pressão educativa e o estilo de vida tecnológico que a sociedade adotou são propensos à evolução da doença. É evidente que a utilização prolongada de computadores, tablets e, acima de tudo, telemóveis é cada vez mais preocupante, especialmente nas crianças.

Um exemplo concreto: as crianças que vivem em ambientes urbanos têm uma probabilidade 2,6 vezes maior de desenvolver miopia do que as crianças que vivem em zonas rurais – as quais passam mais tempo ao ar livre e menos a olhar para ecrãs. As atividades ao ar livre são, de facto, reconhecidas como um fator de proteção em relação à miopia. Estudos recentes mostram que a probabilidade de aparecimento e progressão da doença diminui em 2% por cada hora extra, por semana, de tempo passado em atividades ao ar livre. E uma maior atividade no exterior entre os 3 e os 9 anos de idade está associada a uma redução da incidência da miopia entre os 10 e os 15 anos.

Os mecanismos responsáveis ainda não estão claramente esclarecidos mas a exposição a ambientes com mais luz pode ser um dos mecanismos, através da libertação pela retina de uma substância (dopamina) que previne o alongamento do olho – motivo pelo qual devemos ler sempre com luz adequada.

Atenção aos primeiros sinais de alarme

A miopia progride de forma mais grave quando surge mais cedo – ou seja, o início precoce de miopia, em criança, determina uma miopia elevada na idade adulta. Os pais devem, por isso, estar muito atentos aos sinais de alarme nas crianças, como dificuldade de visão ao longe, semicerrar as pálpebras, cansaço ou dores de cabeça.

É conveniente que as crianças e jovens sejam regularmente seguidos por um oftalmologista, para que a miopia possa ser detetada e tratada de forma eficaz assim que surja. Ir ao oftalmologista é a melhor garantia de um acompanhamento de qualidade, com as técnicas e tratamentos mais eficazes.

Paralelamente, devemos combater a tendência de usar os tablets e telemóveis para silenciar crianças muito pequenas, para que não chorem, não incomodem ou mesmo para que comam a refeição, situações a que assistimos frequentemente, e que afetam não só os mais pequenos: quantas vezes vemos famílias à mesa em que a maioria das pessoas estão coladas ao telemóvel, em vez de falar e conviver?

Os pais devem incentivar as crianças e os jovens em geral a adotar hábitos que reduzam o risco: promover intervalos, evitando longos períodos de visão ao perto, diminuir as atividades de visão ao perto desnecessárias e incentivar a atividade ao livre, pelo menos duas horas por dia. Sem o apoio dos pais e formadores, a pandemia da miopia vai ser catastrófica num futuro muito próximo.

 

Joaquim Neto Murta

Professor Catedrático e ex-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Diretor de Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Oftalmologista na UOC – Unidade de Oftalmologia de Coimbra

Professor Joaquim Murta

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